As palavras e os números
Comparam nossas alturas
Nossos pés
– Não nossos passos -.
Seus sapatos são apertados
Para meus caminhos
Os meus, frouxos demais
Para os dele
Nossos silencios se
Contemplam e por um instante
Se completam:
Esta ele menor.
Onde está o homem
Daquele Olhar indiferente
Da autoridade fugidia
Da lenda mais obsoleta mas absoluta
Que cultivei por tanto tempo em jardins tão secretos
Onde está aquele homem
Das ausências
Que tive a piedade necessária
Da covardia
Para jamais matar em meus
Complexos
O vazio da cadeira
O chinelo sem espectro
O armário sem fantasma
Se move, caminha, assombra.
Traria de volta o Mito
A estátua a tragédia o Museu
Abandono o abandono
Para vê-lo
Homem de carne
Pai de carne
Fantasma de carne
Deserto de carne: comédia.
Bela esta risada
Por que porque em nome do sangue vermelho devo
Assassinar esta flor
Estúpida por ser rosa
Desertificar o que me constituiu
Tirar o cimento e o peso cinza do espelho
E o peso e o cimento do caixão Dela:
Não, não é mais tempo
De primaveras
O tempo é árido, vasto, varrido e
Morto. Ressuscita-lo?
Onde estão aqueles livros
Que me ensinaram
Que a literatura se curva ainda
Aos mais desesperados
Onde estão aquelas políticas
Que me ensinaram
Que as ideologias
Se curvam às guerras
Onde
Ainda
Aonde
Se foram aquelas paixões
Que me ensinaram
Que teus amores
Se cursaram aos ódios
Vai, figurante de pai
Vai, Desencanto de doçura
Vai, Figura patetica de paternidade
Vai
Embora tragas aquele Judas aquele Fausto aquela prostituta e aquela rejeição
Tira de algum recanto aquele meu medo meu nojo meu ódio
Preciso do impreciso e indecifrável
Como devorarei o meu filho
Sem fome de enigma
Com que trauma salvarei o próximo
E o distante
Ofusca este Sol
Antes que me diga que o melhor que o melhor que teu filho escreveu
Foi que o pior da escuridão é poder
Vê-La.