Este poema será mortal, camarada
Porque o escrevo para sobreviver
Depois de passar pela maior perda
Das perdas
Os olhos dela
Quando lhe dão carinho, eles penetram na alma
Ela pouco deu carinho com os olhos, talvez eu tenha sido
O primeiro, isto foi fácil de perceber
Difícil foi o que se seguiu
Os olhos dela
Não olhe nos olhos dela
Olhe para tudo, para o mofo do quarto
Podemos com o mofo do quarto, há beleza nele
Com a cinza do cigarro
Olhe para a barata no banheiro, olhe para o banheiro, olhe para o lodo
Mas jamais nos olhos dela
Nós somos bandidos, todos nós
Criminosos uns com os outros, desonestos uns com os outros
Assassinos da pior espécie uns com os outros
Malditos uns com os outros
E por isso somos melhores
Somos melhores, desonestos
Melhores corrompidos
Melhores quando assassinos assassinados
Melhores quando marginalizados
Melhores quando miserabilizados
Sempre melhores,
Quanto pior melhor
Mas quando a flor encontra isso
Ela o derruba
Ela o destroça e o
corrompe
o assassina
e o marginaliza
ela avança num deserto contra todos os exércitos possíveis
ela avança sem fúria
como uma absoluta cavalaria
e por isso ela avança rápida como um guepardo faminto
impiedosa
implacável
De uma maneira que a guerra não faz
De uma maneira que exércitos não são capazes de fazer
A guerra há sempre de te enaltecer, meu camarada
A guerra foi muito pra mim
Ela me expandiu e me conquistou
E então eu expandi e conquistei
Se viveres num campo de batalha
Sairás machucado, mas vivo
Abatido, mas forte
Num deserto
E aprenderás a viver nele, saborear a areia, o fogo, o sol
Jantar com os lobos, dormir com leões
Serás o oásis do próprio oásis
Te abrigará com raposas velozes e traiçoeiras, elas serão tuas irmãs e tu irmão delas no sentido mais honesto e sincero possível
Serás capaz de enxergar sentido e beleza nisso, e de fato há
Pensarás que tu entende a beleza, e de fato a verás
Até que olharás nos olhos dela
E entenderás o que eu digo quando eu digo que
A flor vence o crime
Ela vence e ela vencerá, e ela vencerá mais uma vez
E o crime voltará maior como uma praga
A estratégia crescera, a inteligência, a tática, o entendimento, nossa natureza seguira avançando e avançando
E ela de novo, em sua natureza, o vencerá
E o crime podará as flores do mundo
E elas continuarão vencendo
Uma contra todos
Uma contra um
Ela vencerá
Entendas que não há vitória
A flor
Vencerá qualquer fuzil ou míssil ou palavra ou ódio
Vencerá qualquer deus qualquer matemática teoria doutrina ideia
Eles venceram muito, mas nao venceram a todos
A flor eh absoluta
Porque ela nasceu pra conquistar
Eh da natureza dela sustentar a beleza e ser absoluta
E ela o faz com a cirurgia
Com a técnica e com a destreza
Dos olhos dela
Se queres acabar com um homem
O ódio eh em vao, nos somos filhos dele
A miséria, o crime, a morte a morte a morte a morte a morte
Em vao, tudo em vao, tudo em vao, nos somos filhos deles
Eles podem lhe adotar, mulher, adotar qualquer uma de vocês
Mas o sangue tem sangue de homem
Nao o amor
O amor o destrocara ate ele perder a fe na miséria e no crime e na morte e na próxima morte e na próxima e na próxima
O amor ha de oprimi-lo de uma maneira tao perversa
Ate que numa lasca de diamante
A menor possível
A ultima restante
A parte indivisível da parte indisivel do átomo
Ele concentre a dor
E numa fusão
Nascera o primeiro homem
Filho
Do amor